Repórter embarca em cruzeiro no Caribe e mostra o que mudou com a pandemia

Por Folha de SP

16-junho-2021

 

Um a um, os passageiros tiraram as máscaras e celebraram, ao passar pela verificação de saúde e segurança e embarcar no primeiro navio de cruzeiro a zarpar da América do Norte desde que a pandemia foi declarada, em março de 2020.

 

O Celebrity Millennium, à esquerda, operado pela Royal Caribbeans Celebrity Cruises, parado na ilha St. Maarten, no Caribe, no dia 5 de junho – Jean Vallette/The New York Times

 

Uma mulher jogou a bolsa no chão e começou a ondular ao som da batida caribenha de calipso que tocava na área de recepção. Outra cerrou o punho e trocou um soquinho de cumprimento com um tripulante, antes de lhe dar um abraço, enquanto um homem mais velho contemplava os passageiros, imóvel e com os olhos cheios de lágrimas, ao processar a realidade de que estava de volta aos cruzeiros, um dos mais de 400 que realizou em sua vida.

“Estamos de volta, estamos em casa”, gritou uma passageira ao embarcar. “Bem-vinda de volta, madame”, respondeu um tripulante com um sorriso reluzente. “Sentimos sua falta”.

Para muitos dos cerca de 600 passageiros que embarcaram no Celebrity Millenium, operado pela Celebrity Cruises, da Royal Caribbean, e que zarpou da ilha caribenha de St. Maarten no sábado (5), aquele foi o momento com o qual todos haviam sonhado durante 15 meses, o período que os navios de cruzeiro passaram atracados nos portos mesmo depois que a vacinação foi adiante nos Estados Unidos e as pessoas começaram a viajar de novo.

Para os 650 tripulantes do navio, a ocasião foi igualmente alegre, e trouxe alívio, depois de um ano sacrificado, sem trabalho ou renda regular.

“É difícil sobreviver em casa por 14 meses”, disse Donald Sihombing, 33, nascido na Indonésia e atendente de cabine. “Sinto-me feliz e afortunado por estar de volta. Continua a existir muita gente que tem de esperar pelo
recomeço dos cruzeiros nos Estados Unidos, para poder voltar a trabalhar”.

As grandes companhias de cruzeiros estão se preparando para recomeçar as operações dos portos dos Estados Unidos dentro de algumas semanas. O Celebrity Edge será o primeiro a partir, de Fort Lauderdale, na Flórida, em
26 de junho, com toda a tripulação e pelo menos 95% dos passageiros completamente vacinados, de acordo com as diretrizes divulgadas pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

Mas esses planos podem ser prejudicados se a Flórida não isentar os navios de cruzeiro de uma lei estadual recentemente promulgada que proíbe empresas de exigir provas de imunização, das pessoas que buscam usar seus serviços.

A Celebrity Cruises está negociando com o CDC e as autoridades estaduais da Flórida, e está otimista quanto a encontrar uma solução em tempo para o embarque. Susan Lomax, vice-presidente associada de relações públicas
internacionais da companhia, disse que esta continuaria a oferecer viagens vacinadas a fim de garantir a segurança dos passageiros, das tripulações e das comunidades locais nos destinos visitados.

Encontre abaixo informações sobre o primeiro grande cruzeiro com passageiros americanos desde 2020. O itinerário para a viagem de sete dias, com partida em St. Maarten, incluiu paradas em B arbados, Aruba e Curaçao.

Para subir a bordo do Celebrity Millennium, todos os passageiros adultos tiveram de preencher questionários de saúde e mostrar prova de vacinação e um teste PCR negativo. Além disso, St. Maarten requer que visitantes
apresentem uma cópia impressa de seu documento de verificação de saúde, que deve ser autorizado antes do embarque.

O processo de check-in começa em casa, por meio do app ou site da Celebrity Cruises, que permite que o passaporte seja digitalizado, os formulários preenchidos e um horário de embarque reservado. Quando todas as etapas estiverem concluídas, o sistema gera um passe expresso concebido para minimizar contatos e acelerar os procedimentos de embarque. Na área de embarque, o passe será registrado por uma scanner e os certificados de exame verificados pela tripulação, e em seguida os passageiros terão autorização para embarcar no navio.

Mas esteja preparado para surpresas. Inicialmente, Barbados, o primeiro porto de parada, exigia que visitantes apresentassem exames negativos de Covid realizados 120 horas antes da partida. Mas mudou seus requisitos e
agora exige exame realizado no máximo 72 horas antes, o que significa que os resultados de alguns passageiros podiam ter perdido a validade no momento da chegada.

A Celebrity Cruises montou uma estação de exame no terminal de partida e ofereceu exames gratuitos de antígenos que produzem resultados em 20 minutos, permitindo o embarque de passageiros.

 

Passageiros durante uma excursão em Barbados, em junho de 2021, não eram permitidos andar sozinhos na ilha ou nadar na praia – Ceylan Yeginsu/The New York Times

 

As pessoas que realizem cruzeiros regularmente já conhecem a rotina de segurança, que inclui um exercício em que todo precisam se reunir em sua estação de resgate a bordo do navio e assistir a uma demonstração de Passageiros durante uma excursão em Barbados, em junho de 2021, não eram permitidos andar sozinhos na ilha ou nadar na praia – Ceylan Yeginsu/The New York Times segurança que demora 30 minutos ou mais. Um passageiro descreve o
procedimento como “miserável”.

Esta semana, a Celebrity Cruises estreou seu novo sistema de exercícios eletrônicos de segurança, que permite que os passageiros passem pelo treinamento em seus aparelhos eletrônicos, lhes mostra como vestir os coletes salva-vidas e os familiariza com o som dos sinais de emergência. Ao embarcar, os passageiros precisam visitar a estação de resgate designada para eles, e recebem uma etiqueta adesiva que afixam ao seu cartão-chave eletrônico para demonstrar que concluíram o processo.

Ao embarcar, os passageiros foram autorizados a ir imediatamente para suas cabines. (Antes da pandemia, eles precisavam esperar até as 13h.) Todas as cabines têm estoques de máscaras e álcool desinfetante, e passam por
desinfecção a cada dia.

Todas as instalações do navio, incluindo a academia de ginástica, spa, cassino e teatro, estavam abertas e funcionando normalmente, ainda que o navio esteja operando com apenas um terço de sua capacidade de passageiros. Para reduzir os contatos, as cabines podem ser destrancadas usando o app da Celebrity no celular do passageiro, e todos os restaurantes, atividades e excursões em terra podem ser reservados por meio do app.

O uso de máscaras não é requerido para os passageiros, por causa dos requisitos de vacinação, mas a tripulação deve usá-las em serviço, uma regra que será revisada depois do primeiro cruzeiro.

Há exames PCR e de antígenos para a Covid disponíveis gratuitamente no navio.

Alguns passageiros de navios de cruzeiro temiam que os bufês que eles costumam oferecer fossem abolidos na era da pandemia, mas no Oceanview Café, no décimo convés do Celebrity Millennium, as estações de bufê estavam em pleno funcionamento. A principal diferença era que a comida está sendo servida por tripulantes.

Quando convidados entram no restaurante, eles precisam lavar as mãos em pias instaladas na entrada – o que já era exigido antes da pandemia. Depois podem caminhar de estação a estação e apontar para o que desejam comer, e tripulantes fazem seus pratos.

O novo sistema funcionou bem em um navio carregando apenas 30% de sua capacidade de passageiros. Os tripulantes conseguiram acompanhar a demanda e as estações não ficaram superlotadas, mas se o navio zarpar com
sua carga plena de 2.210 passageiros a experiência deve ser menos cômoda.

Alguns convidados haviam antecipado uma queda na qualidade da comida devido ao abalo financeiro que as companhias de cruzeiro sofreram desde o começo da pandemia, mas a maioria deles disse que a empresa havia
mantido seu padrão elevado de culinária e serviço.

“Investimos ainda mais em nossos serviços de comida e bebida, e melhoramos nossas atrações em todos os níveis”, disse Lorenzo Davidoiu, vice-presidente de excelência de serviço na Celebrity Cruises.

 

Uma estação de bufê a bordo do Celebrity Millennium em junho de 2021, em que uma repórter fez o primeiro cruzeiro de um porto da América do Norte desde o início da pandemia – Ceylan Yeginsu/The New York Times

 

Depois de um ano frustrante em que reservaram diversos cruzeiros mas os tiveram cancelados ou adiados, muitos dos passageiros estavam eufóricos por estarem de volta a um navio, ainda que não tivessem certeza do que
deveriam esperar.

“Já fizemos 28 cruzeiros, em toda variedade de navio, mas com esse vírus insano não sabíamos que cara isso teria, e por isso queríamos experimentar e ver se nos sentiríamos seguros”, disse Squirrel Simpson, 68, ávida passageira
de cruzeiros que vive em Myrtle Beach, na Carolina do Sul, e estava sentada ao lado do marido em um bar de piscina, tomando um drinque.

Seu veredicto: “Foi incrível. A sensação era a de estarmos de volta aos tempos anteriores à pandemia, e estarmos vivos de novo – interagindo com as pessoas sem máscara, comendo em restaurantes, vendo shows. É um
sonho”.

Uma estação de bufê a bordo do Celebrity Millennium em junho de 2021, em que uma repórter fez o primeiro cruzeiro de um porto da América do Norte desde o início da pandemia – Ceylan Yeginsu/The New York Times
Mas para Simpson, o navio meio vazio foi surreal, e ela disse sentir falta do agito causado por um grande número de passageiros a bordo.

“Normalmente, você precisa acordar às sete da manhã e ter sorte, se quer encontrar uma cadeira vazia para colocar sua toalha, mas agora temos muita escolha”, ela disse, apontando para as fileiras vazias de cadeiras de piscina ali
por perto.

Michelle Lewis, 56, e Chad Curtis, 34, um casal do Orange County, Califórnia, estavam sentados e trocando sorrisos, celebrando a primeira noite de sua lua de mel no Tuscan Grill um dos restaurantes finos do navio. Eles fizeram uma careta quando perguntei se sentiam ser ratos de laboratório que estavam testando uma série de protocolos de saúde e segurança.

“Não me sinto um rato de laboratório, me sinto uma pioneira”, disse Lewis, rindo. “Podem surgir questões ao longo do caminho, e acho que você precisa estar preparado para que as coisas não transcorram perfeitamente. Mas olhe para nós”, ela disse, apontando para o oceano ao fundo. “Estamos no meio do Mar do Caribe em um cruzeiro de luxo, sem máscaras, e com essas pessoas e tripulação maravilhosas. A sensação é fantástica”.

O casal está considerando fazer um segundo cruzeiro logo em seguida, com o mesmo itinerário, embarcando em St. Maarten em 19 de junho.

“A ideia de não ter de embarcar direto no avião de volta e de passar tempo em uma bolha sem Covid é bem atraente”, disse Curtis.

Usualmente, quando um navio de cruzeiro faz uma parada em um porto, os passageiros podem participar de excursões organizadas pela operadora de cruzeiros, ou podem explorar a região independentemente, dentro do
horário reservado.

As restrições do coronavírus em Barbados, o primeiro porto de parada, significam que os passageiros só foram autorizados a participar de “excursões em bolha”, concebidas para limitar as interações com a população local.
Havia diversas opções, entre as quais turnês pela ilha e suas praias de areias brancas, mas a excursão mais popular era uma viagem de catamarã que envolvia nadar com tartarugas do mar.

Máscaras são requeridas quando os passageiros desembarcam do navio para apanhar o ônibus que os leva ao catamarã. O barco ancora não muito longe da costa para permitir que os passageiros nadem, nas eles foram instruídos repetidamente a não nadar até a praia.

“Eu usualmente não faria uma excursão em terra, e é estranho ficar restringido”, disse Harvey Freid, de Miami, um dos passageiros. “Gosto de visitar os restaurantes locais, experimentar a comida, conversar com os moradores locais, ir ao cassino. Mas o que se pode fazer? Não é tão ruim”.

No segundo porto de parada, Aruba, os passageiros estavam liberados para circular por cota própria, e muitos aproveitaram a oportunidade.

“É realmente bacana chegar a um lugar novo em navio de cruzeiro, e partir em seguida, depois de passear por lá como costumávamos”, disse Marni Turner, 52, veterana passageira de cruzeiros, da Flórida. “Mas é estranho ter
de usar a máscara e me preocupar com a Covid. É muito mais seguro e confortável ficar no navio”.

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