Muhcab reabre na Gamboa requalificado , com exposições e programação especial que exaltam a ancestralidade 

Construir um futuro sem racismo e com mais diversidade. Esses são alguns dos objetivos do Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), na Gamboa, que reabriu ao público no último sábado (29), depois de seis meses em obras. O museu foi totalmente reformado, modernizado e requalificado. Trata-se de um Museu de Território da Prefeitura do Rio via Secretaria Municipal de Cultura, de papel fundamental no resgate, preservação e revitalização da memória afro-brasileira.

Entre as melhorias feitas no Muhcab, destaque para a reforma dos banheiros, construção de rampas de acesso, troca completa das instalações elétricas e, sobretudo, a requalificação de todo o acervo: cerca de 180 achados arqueológicos descobertos nas obras do Porto Maravilha em torno da exposição “Achados do Valongo”. Há vários espaços novos no Muhcab, que passa a oferecer agora salas de ensaio, informática e leitura, um mini anfiteatro, mais um auditório, outras salas expositivas, uma área com mini arquibancada e jardim para atividades com crianças e também hall de convivência.

Para celebrar a retomada, os portões do imóvel, por onde passa o VLT, foram abertos ao público, com show da cantora maranhense Rita Beneditto, roda de samba e feijoada. A festa ocorreu na parte externa, na Praça das Yabás.

Na nova Biblioteca Municipal José Bonifácio, também inaugurada no último sábado, houve um papo com a escritora Conceição Evaristo, sobre seu último livro: “Macabéa: Flor de Mulungu”. A biblioteca que fica dentro do museu terá foco em literatura negra. São cerca de dois mil livros, incluindo literatura infantil.

Um dos 15 pontos de memória que compõem a Pequena África, na Zona Portuária do Rio, o Muhcab foi aberto ao público em novembro de 2021 pela prefeitura – via Secretaria Municipal de Cultura – no imóvel onde funcionou o Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa. Vizinho ao Cais do Valongo (Patrimônio Mundial / Unesco), o museu foi criado em 2017, via decreto, mas nunca tinha sido aberto ao público. O acervo guarda aproximadamente 2,5 mil itens, entre pinturas, esculturas e fotografias, além de trabalhos de artistas plásticos contemporâneos, que dialogam com o espaço.

Passado e presente se encontram nas exposições do Muhcab

Nas salas de exposição do Muhcab, passado e presente se encontram. Uma das novidades é a mostra “Os Super Heróis Negros Brasileiros”, com produção de Paula Ramagem, reunindo, na Sala Mestre Marçal, imagens de personagens de HQs produzidos por quadrinistas negros.

-O resultado de uma amizade que começou no Maranhão e, pela força dos orixás, levou esses dois grandes artistas, Fernando Mendonça e Rita Benneditto a se reencontrarem no Rio. O objetivo é trazer à luz sua importância em nossa história, ancestralidade, sua humanidade e seus super poderes – contou Paula Ramagem.

O visitante também poderá conhecer as publicações e assistir a palestras com criadores como Valu Vasconcelos, Ropram, Ellyan Lopes e o CEO da Editora Kimera, Vanderlei Sadrack, o Stan Lee brasileiro. Adalberto Bernardino, Erick Lustosa e Raphael Gomide assinam a curadoria.

Outra mostra, na Sala Mercedes Batista, “Canto, Cores e Telas: TecnoMacumba no traço de Fernando Mendonça”, apresenta mais de 20 pinturas de grande porte a partir dos shows da Rita Benneditto, onde o artista fazia pinturas ao vivo, elaborando imagens relacionadas às religiões de matrizes africanas, sobretudo orixás. A exposição tem recursos do edital Pró-Carioca – Edição Paulo Gustavo.

“Protagonismos, memória, orgulho e identidade” segue em cartaz, com obras do acervo do Muhcab, ocupando a maior parte das cinco salas. Destaque para a pintura “Persistir”, do artista digital Artedeft, na qual um menino negro observa a favela. Nesse sentido, o Muhcab incorpora à sua identidade o afrofuturismo, movimento estético e político que olha o passado enquanto imagina novas representações para o futuro dos povos negros. Um dos objetivos da Secretaria Municipal de Cultura é transformar o Muhcab numa referência internacional de arte contemporânea.

Achados do Valongo

Por iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura e do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, em parceria com pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e do Museu Nacional, a exposição “Achados do Valongo” reúne 180 itens como piaçavas, cerâmicas, pedras e peças em vidro que contam um pouco da história da herança africana no Rio. São achados arqueológicos do antigo Cais do Valongo, na Zona Portuária, lugar onde operou o maior mercado de escravizados do Brasil. Fazem parte do acervo do Laboratório Aberto de Arqueologia Urbana (Laau) da Prefeitura do Rio, e ficarão em cartaz no Muhcab por pelo menos um ano.

Descoberto em 2011, na fase inicial do projeto Porto Maravilha, de revitalização da região, o cais era adjacente ao mercado. Estima-se que por lá passaram 700 mil africanos escravizados, entre 1790 e 1831, oriundos principalmente de portos do atual território de Angola, mas também de Moçambique.

A escavação arqueológica de 2011 abriu um pedaço de terreno de quatro mil metros quadrados. De lá saíram centenas de artefatos de matrizes africanas, como contas de colares, búzios, brincos e pulseiras de cobre, cristais, peças de cerâmica, anéis de piaçava, figas, cachimbos de barro, materiais de cobre, âmbar, corais e miniaturas de uso ritual.

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