Por O Globo – 05/08/2021
RIO – Afastados há cerca um ano e meio do nosso litoral, os navios de cruzeiro continuam no horizonte de turistas brasileiros. A maioria dos potenciais passageiros considera as viagens marítimas uma forte opção para as férias, mas toparia embarcar somente com a vacinação completa, e não vê problemas em seguir parte das medidas de segurança contra a Covid-19 implementadas por companhias.
Turistas desembarcam do navio Mein Schiff 2, da armadora TUI Cruises, no porto de Málaga, na Espanha Foto: JON NAZCA / Reuters
Estas são algumas conclusões do estudo “Protocolos para a retomada da indústria de cruzeiros e o que pensam os brasileiros”, resultado do Programa de Pós-graduação em Metrologia, Qualidade e Inovação (Pós MQI), do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio), da professora Ana Lúcia Rodrigues da Silva e de seu orientador de pós-doutorado, o professor Reinaldo Castro Souza. Antecipada com exclusividade para O GLOBO, a pesquisa se debruçou sobre as perspectivas de recuperação deste estilo de viagem no país, a partir da percepção de segurança de potenciais passageiros.
Alta fidelidade
Tripulantes montam o prato de uma pequena passageira no bufê do Quantum of the Seas, da Royal Caribbean, numa das mudanças mais expressivas de hábito nos navios de cruzeiros Foto: Royal Caribbean / Divulgação
Entre 13 de abril e 13 de maio, foram entrevistadas 412 pessoas, de diversas faixas etárias e com variados graus de experiência em viagens marítimas, com 30% entre os que nunca embarcaram e 70% entre os que já fizeram de um a mais de sete cruzeiros na vida.
Esta separação por experiência a bordo revelou aos pesquisadores que, quando se trata de cruzeiros marítimos, a fidelidade aumenta de acordo com o número de horas navegadas.
— Quanto maior o número de cruzeiros já feitos, maior a propensão para confiar nos protocolos de segurança e a disposição de se programar para futuras viagens — diz Reinaldo.
Por exemplo, 50,1% de todos os entrevistados concordaram com a frase “Viajarei num cruzeiro assim que tiver oportunidade de ir”. No recorte de pessoas que nunca viajaram de navio na vida, esse percentual cai para 30,6%. Já entre os que fizeram mais de sete roteiros desse tipo, pula para 87,1%.
Protocolos e vacinas importam
Em relação aos protocolos de segurança, os entrevistados se mostraram dispostos a adotar a maioria deles, como aceitar medição de temperatura constante, usar máscaras em áreas comuns, higienizar as mãos, fazer testes PCR antes do embarque e se adaptar ao novo modelo de bufê, no qual os pratos são servidos pelos tripulantes. Em outros aspectos, porém, a resistência promete ser maior, afirma Ana Lúcia:
— Muita gente não gosta da ideia de precisar de distanciamento em festas e shows, e também de não poder desembarcar por conta própria nas paradas, apenas com excursões contratadas, que são pagas à parte.
Além da confiança dos passageiros, o segmento de cruzeiros aposta no avanço da vacinação no país. Não porque essa poderá ser uma exigência para a viagem, mas porque 66,5% dos potenciais passageiros, segundo a pesquisa, afirmam que embarcarão apenas com a imunização contra a Covid-19 completa.
Baseado na taxa de ocupação em 2019/2020, e na média de limitação da capacidade em outros países (em torno de 70%), o estudo projetou também o número de passageiros da futura temporada.
— Numa previsão bem realista, teremos entre 300 mil e 350 mil. Mas há um desejo muito grande por parte dos passageiros em voltar a viajar — afirma o professor Reinaldo.
Uma previsão realista
A previsão fica abaixo dos 572 mil leitos oferecidos pelos sete navios escalados para a temporada, que ainda depende da aprovação de diversos órgãos federais, como a Anvisa. Caso isso aconteça, está marcada para o período entre 31 de outubro e 19 de abril de 2022.
— Estamos prontos para retomar as viagens. As negociações com as autoridades federais, e também com os destinos, estão caminhando bem. Acreditamos que, à medida que a vacinação avance, e o número de casos diminua, a aprovação será uma realidade — diz Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia-Brasil).
Ferraz, que teve acesso ao estudo durante uma apresentação aos membros da Clia-Brasil, afirma que a pesquisa pode ser uma ferramenta útil para elaborar estratégias de comunicação direcionadas aos passageiros, a fim de reforçar a importância das medidas de segurança contra a Covid-19.
— As companhias de cruzeiros estão operando com sucesso na Europa, nos Estados Unidos, no Caribe e na Ásia, com índices baixíssimos de casos, graças aos protocolos da Clia. Eles serão aplicados também no Brasil, como a vacinação da tripulação, a exigência de testes PCR para todas as pessoas a bordo e outros. — explica. — Mas é claro que muitas medidas podem ser revistas, dependendo da situação da pandemia. A obrigatoriedade do desembarque em excursões fechadas, por exemplo, é a maneira mais segura encontrada hoje em dia, mas pode ser relaxada, caso as condições futuras permitam.
O que querem os viajantes
Predisposição para viajar
50,1% querem viajar na primeira oportunidade.
66,5% só farão um cruzeiro quando estiverem completamente vacinados contra a Covid-19.
48,3% afirmaram que só farão um cruzeiro quando a pandemia tiver terminado.
Aferição de temperatura no terminal de embarque de um cruzeiro da MSC Foto: Riccardo Fani / MSC Cruzeiros / Divulgação
Protocolos de segurança
64,8% dizem não se importar em seguir protocolos básicos como usar máscaras, fazer testes de Covid-19 e higienizar as mãos.
47,5% acreditam que respeitar o distanciamento social não vai tirar o prazer de estar a bordo (33,1% discordam).
52% não consideram que o bufê servido pelos tripulantes atrapalhe a experiência a bordo.
44,3% não veem problema em apenas fazer excursões em terra organizadas pela companhia (36,3% discordam).
73,9% acreditam que cruzeiros com capacidade reduzida de passageiros são mais seguros.
Duração de viagens
40,6% preferem, na retomada, cruzeiros mais curtos (para 42,1%, isso não faz diferença).
58% não acham que cruzeiros sem parada sejam mais seguros.
47,7% têm receio em viajar num navio que já registrou surtos ou mesmo morte por Covid-19.
Créditos e viagens agendadas
74,3% não possuem crédito de viagens não agendadas.
69% não reservaram cruzeiros para a temporada 21/22.
53,5% das pessoas que possuem créditos por viagens não realizadas já fizeram mais de sete cruzeiros na vida.
Fonte: jornal O Globo – https://oglobo.globo.com/boa-viagem/cruzeiros-pesquisa-revela-que-brasileiros-querem-embarcar-mas-so-depois-de-vacinados-25141032